As propostas da Iniciativa Clima e Desenvolvimento: visões para o Brasil 2030 lançadas dia 15/10 e construídas a partir de um amplo debate com diversos atores e setores da sociedade brasileira, foram discutidas na Comissão Geral da Câmara dos Deputados, na manhã desta terça-feira, 26/10. O documento elaborado pela Iniciativa foi apresentado pela presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell, que lamentou o retrocesso das políticas brasileiras para a redução das emissões dos gases de efeito estufa: “Infelizmente, o Brasil, o governo federal brasileiro levará à COP 26 uma meta pior do que a que nós submetemos há seis anos”. E lembrou que “o Brasil é o único, entre as grandes economias, que consta com um retrocesso na meta apresentada junto ao Acordo de Paris”.
Participaram do evento, entre autoridades e representantes da Iniciativa, o diretor de Economia Verde do WWF Brasil, Alexandre Prado, que alertou para o aumento crescente da temperatura do planeta, fato atestado por mais de dois mil cientistas de todo o mundo, responsáveis pelo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Segundo Prado, “o planeta está mais quente e seco e os principais causadores disso somos nós, a sociedade humana”. E alertou: “Aqui, no Brasil, as temperaturas médias mínimas devem subir em torno de meio grau por década se não fizermos nada, e há um incremento superior a 30% no número de dias com temperatura máxima extrema”.
Na mesma linha de raciocínio, o secretário executivo do Observatório do Clima e membro do Comitê Externo da Iniciativa, Márcio Astrini, ponderou não haver dúvidas de que, hoje, as mudanças climáticas representam o maior desafio conjunto que a humanidade enfrenta. O mundo, disse ele, “está mobilizado nessa agenda e quem não atua nessa realidade, ou está de costas para o mundo ou é irresponsável, e o atual governo brasileiro está de costas para o mundo na agenda ambiental e é irresponsável na agenda de clima e de meio ambiente”.
O objetivo dos parlamentares foi discutir e propor ações e estratégias para o governo brasileiro apresentar na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 26), que acontecerá em Glasgow, Escócia, de 1º a 12 de novembro de 2021, com foco na implementação do Acordo de Paris, considerado um dos mais importantes compromissos multilaterais para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Marina Marçal, integrante do Comitê Executivo e coordenadora de Política Climática do Instituto Clima e Sociedade (iCS), se reuniu com embaixadores e parlamentares na última semana, conversando sobre as oportunidades do Brasil com a COP26 e como o relatório final da Iniciativa Clima e Desenvolvimento: visões para o Brasil 2030 aponta possibilidades concretas de descarbonização e desenvolvimento justo. “Nós temos um resultado inédito com três cenários que demonstram que o Brasil pode descarbonizar com uma meta muito mais ambiciosa, mas também gerando empregos e melhorando a qualidade de vida dos brasileiros. Algo que, como mulher negra, tenho muito orgulho de ter participado da construção, porque sei o quanto ações como essa podem trazer impactos para a população negra num cenário de tanta fome e desemprego”.
Desde o lançamento, o documento tem sido entregue por membros da Iniciativa, pessoalmente, à diversos atores-chaves como embaixadores do Reino Unido, Alemanha e Noruega, além de Ministérios da Economia, Conselho Nacional de Justiça e líderes no Congresso como a senadora Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado e o senador Jacques Wagner, presidente da Comissão de Meio Ambiente.