A necessidade urgente do Brasil se comprometer e se empenhar em alcançar metas ambiciosas de redução de emissões foi debate na tarde desta quinta-feira, no Brasil Climate Hub, espaço da sociedade civil na COP Durante evento plural que reuniu governadores, parlamentares, representantes empresarias e lideranças dos movimentos ambientalista, negro e indígena, ficou claro o descontentamento com a política ambiental do país e a urgência em implementar medidas que garantam um desenvolvimento sustentável e inclusivo. O debate refletiu todo o processo de construção realizado pela Iniciativa Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030 que, ao longo de seis meses, reuniu mais de 300 pessoas em consultas para a construção do documento apresentado na COP 26.
Dentro das visões e propostas para um futuro ambicioso de descarbonização para o País, a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell, definiu o que ela considera um projeto de país: “Internamente, estamos numa fase de retrocesso, e o que a gente ouviu dos representantes da sociedade civil é que qualquer estratégia de mudança começa com o combate à desigualdade social, pois não há como pensar em desenvolvimento, no cenário atual, sem haver uma retomada da
economia, com um mínimo de distribuição de renda. A economia precisa crescer de forma ambientalmente correta e a questão climática é uma oportunidade para debatermos um outro modelo de desenvolvimento que não seja poluente ou excludente e isso é possível, é bom para economia, é bom para os brasileiros, é bom para o planeta”, sentenciou.
Na sequência, a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira foi enfática: “Estamos lutando por um Brasil que, hoje, não serve para nós, sociedade brasileira. Nosso foco não é apenas a eleição 2022. Vamos mudar a sociedade por dentro, porque os brasileiros merecem e o mundo espera isso de nós. Temos de agir e agir é tomar a agenda de clima para si, e o clima tem dois lados – o problema e a solução. O problema já existe. Temos de fazer parte da solução”. Segundo Izabella Teixeira, “um presidente da República não pode destruir a história de um país, de uma sociedade. Então, nós temos que contar nossas histórias no Brasil do futuro, contar novas e belas histórias sobre o futuro e para isso precisamos trazer o futuro para o presente. A agenda de clima e desenvolvimento tem a ver com seu João, com a dona Maria e com seu Pedro. O sol tem de nascer para todos e tem de chegar no dia a dia das pessoas como solução”.
Entre as dezenas de pessoas que compareceram ao evento no Brasil Climate Action Hub, durante a COP 26, Emílio La Rovère, do Centro Clima da COPPE UFRJ, destacou que “o Brasil real é uma coisa, e o que estamos vendo no Brasil de hoje é outra. E é passageira”. Ele lembrou que, agora temos uma oportunidade de transformar essa crise em empregos numa economia verde, com soluções baseadas na natureza. “Essa é a mensagem que esse trabalho traz e o mais importante é que se trata de uma construção coletiva, com cenários para uma história de futuro”, disse.
Pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), Ana Toni considerou a enorme relevância do debate e agradeceu a todas as entidades, cientistas e demais representantes da sociedade brasileira na pavimentação do caminho até a COP 26. Exortou a construção de um futuro sem desmatamento, sem destruição ambiental e sem desigualdade social, atendendo às vozes que buscam por mudanças efetivas: “É preciso haver uma mudança de mentalidade, pois no futuro não há espaço para o desmatamento, para quem quer destruir o meio ambiente. Esse valor da sociedade contemporânea precisa ganhar outra dimensão”.
A deputada federal por Rondônia, a indígena Joênia Wapichana, enfatizou que “preservar a Amazônia e manter a floresta em pé e parte essencial da estratégia de descarbonização, e nada mais justo do que incluir os povos indígenas como protagonistas de todo esse processo. “A floresta precisa estar em pé e viva”, enfatizou.
Já o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, reforçou a proposta de que cada estado brasileiro, no âmbito estadual e no municipal, deve ter seu próprio plano de neutralidade de carbono. Além disso, destacou a importância de se estabelecer metas concretas para implementar as estratégias de descarbonização da economia de forma sustentada, “para alcançarmos 2030 e 2050 com resultados positivos”. Falando pelo Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite lembrou que, do ponto de vista da conscientização para os problemas relacionados à mudança do clima, ” já se avançou muito e a ausência do governo federal gerou uma maior mobilização e engajamento social na direção de uma transição justa”.
Quando se trata de injustiça social, historicamente, o povo negro do Brasil sofre de racismo ambiental desde a colonização, anunciou o fundador da Uneafro, Douglas Belchior. “Ainda hoje, esse povo tem negado o seu direito à vida, porque a super utilização dos recursos naturais e usufruto em demasia dos corpos no trabalho compulsório, da superexploração do trabalho, gera o que nós temos no Brasil hoje, que é a concentração de riqueza nas mãos de poucos”. Reclamou da injustiça que afeta as periferias e que exclui milhões de brasileiros do sistema formal. Belchior insistiu que o processo eleitoral de 2022 “é muito importante e o tema do meio ambiente deve ser central no debate eleitoral do próximo ano”.
Quando se trata de injustiça social, historicamente, o povo negro do Brasil sofre de racismo ambiental desde a colonização, anunciou o fundador da Uneafro, Douglas Belchior. “Ainda hoje, esse povo tem negado o seu direito à vida, porque a super utilização dos recursos naturais e usufruto em demasia dos corpos no trabalho compulsório, da superexploração do trabalho, gera o que nós temos no Brasil hoje, que é a concentração de riqueza nas mãos de poucos”. Reclamou da injustiça que afeta as periferias e que exclui milhões de brasileiros do sistema formal. Belchior insistiu que o processo eleitoral de 2022 “é muito importante e o tema do meio ambiente deve ser central no debate eleitoral do próximo ano”.
A cantora Maria Gadu encerrou o painel, lembrando que cultura e meio ambiente caminham juntos e fazem coro que se trata de exprimir a consciência da importância de se manter a floresta de pé, fato que influencia nos destinos quilombolas e dos povos indígenas que falam 274 línguas originárias no País. “Precisamos ser protagonistas dessa história, lembrando o que disse Sônia Guajajara, para quem a luta pela mãe-terra é a mãe de todas as lutas, porque ela é ancestral”, concluiu.
Em quase quatro meses, o Centro Clima da Coppe UFRJ e o Instituto Talanoa realizaram uma série de consultas com mais de 300 especialistas e lideranças, como presidentes de empresas, dirigentes de organizações sociais, ex-ministros, governadores, prefeitos, parlamentares, além de empresas, fundos de investimento, coalizões e associações privadas. A maior parte desses atores já detém compromissos de zerar carbono antes de 2050, o que hoje corresponde a 58% das emissões no Brasil. As consultas realizadas deixaram claro que o País possui condições de seguir uma trajetória mais ambiciosa de descarbonização capaz de contribuir com o seu desenvolvimento.